Não Olhe Para Cima conta a história de Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), dois astrônomos que fazem uma descoberta surpreendente de um cometa orbitando dentro do sistema solar que está em rota de colisão direta com a Terra. Com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan), Kate e Randall embarcam em um tour pela mídia que os leva ao escritório da Presidente Orlean (Meryl Streep) e de seu filho, Jason (Jonah Hill). Com apenas seis meses até o cometa fazer o impacto, gerenciar o ciclo de notícias de 24 horas e ganhar a atenção do público obcecado pelas mídias sociais antes que seja tarde demais se mostra chocantemente cômico.
Chegamos ao fim de 2021 com a certeza de que o kkkcry é o único estado emocional compatível com a realidade, o que explica o fato de Adam McKay prosperar não apenas na comédia de sátira, seu nicho de origem, mas cada vez mais no cinema de prestígio progressista hollywoodiano. A concentração de astros em Não Olhe para Cima atesta esse momento, num filme planejado como um grande desencargo de consciência da classe artística californiana.
Slavoj Zizek deve rolar os olhos diante de um filme como Não Olhe para Cima, ele que critica sempre a capacidade que o capitalismo tem de vender descontentamentos de volta ao consumidor como mercadorias. Aqui neste caso a mercadoria é um filme que critica a sociedade do espetáculo sem articular minimamente uma autocrítica além das piadas internas e da farsa. Faz todo sentido que McKay e a Netflix tenham se encontrado de modo feliz, porque à sátira segura do diretor se junta a eterna postura da Netflix de se ver como o outsider crítico do sistema hollywoodiano, uma autopromoção obviamente enganosa, uma vez que a Netflix se tornou já há alguns anos o próprio sistema.